domingo, 15 de julho de 2007

O Notavel Renascimento do KOrn

Revista Kerrang!(Julho de 2007)

Levado pelas águas e pronto para chamá-lo de renúncia, KoRn por pouco perdeu tudo. Hoje, apesar de eles terem se armado com garras de seu retorno do monte de ferro velho do nu-metal, estão prontos para encarar seus demônios...

"Estou cansado pra caralho!" São 2am e o líder do KoRn, Jonathan Davis, está estirado no sofá da parte de baixo do ônibus de turnê que ele está dividindo com o baterista do Slipknot, Joey Jordison, nas últimas 5 semanas e meia.

Na mesa em sua frente tem um laptop preto da Apple mostrando um slide de três crianças - Nathan (11 anos), Pirate (2 anos) e Zeppelin, que nasceu em abril deste ano. Na esquerda de Davis há um engradado de cerveja fechado, seis dados e dois copos plásticos cheios com 'moedas' de poker. "Nós somos mesmo loucos por poker nesse ônibus," suavemente explica o cantor.

Ele é rápido em explicar que a cerveja não faz mais parte de si, mas de fato ela pertence à Jordison, que está temporariamente substituindo David Silveria na bateria desde que ele anunciou seu hiato no começo desse ano. "Estou sóbrio por quase nove anos já," Davis completa, com um sorriso torto.

É a última semana de junho e, no decorrer do seu oitavo álbum de estúdio, "Untitled" (Sem Título), Kerrang! se juntou ao KoRn por 48 horas nos seus longos dois meses do Family Values Europeu. Cinco horas atrás a banda detonou em Praga, República Tcheca, numa casa de shows com capacidade para 18 mil pessoas, transformando o show num mar de corpos voadores, bate-cabeças, e próximo de incitar um tumulto.

Agora que o show acabou, os três atuais membros do KoRn - Davis, Munky e Fieldy - e sua companhia, estão se preparando para embarcar numa viagem de seis horas de estrada da República Tcheca à capital da Alemanha, Berlin.

Quando o segundo álbum da banda, "Life Is Peachy", chegou às prateleiras em 1996, catapultoou o KoRn ao topo da lista de metal global. Seu estilo inovador de tocar - uma inventiva fusão de death metal, hip-hop, goth e eletrônico - re-escreveu o livro de regras do heavy metal e pavimentou o caminho para os semelhantes Slipknot, SOAD e Link Park. Para somar à mistura, um líder que não tinha medo de matar seus demônios emocionais em público, e o KoRn se tornou o campeão do desafeiçoado e o tiranizado pelo mundo todo, mais do que o My Chemical Romance é hoje.

Mas as armadilhas da fama e a fortuna seduziram o KoRn. Suas festas extravagantes, seu estilo de vida excessivo - o dinheiro, as drogas, as bebidas e garotas - destruiram mais colunas do que sua música.

Mas depois de um tempestuoso show no Download Festival no último mês e uma fila de shows esgotados por todo o continente, tem sido um mês comovente e uma metade de turnê pro KoRn e as coisas parecem mostrá-los no topo mais uma vez; algo equipara a maioria dos veteranos de jogadores de poker que não deveriam ter apostado em que eles pudessem obter sucesso um monte de anos atrás.

Em despeito ao registro de uma lista de nomeações ao Grammy e ao Top 10 de álbuns nos EUA desde que eles lançaram seu auto-intitulado primeiro cd em 1994, KoRn fez pouco para proteger sua credibilidade como seu crescimento em estatura. Com informações de recordes custando £2.3 milhões para produzir e vídeos com participação de Davis e co-produzindo carros esporte de £125,000, a banda logo se assegura numa puta reputação, evidenciado por atitudes rockstar e uma falta de respeito por seus fãs, evidente em sua relutancia para se empenhar em turnês estrangeiras. Com o "Issues" de 1999, o KoRn se tornou uma inchada, apática caricatura de suas próprias personalidades. E o nu-metal - o gênero que eles são precursores - rapidamente se tornou um eufemismo para tudo que fosse errado com a música do rock.

"A gente tava brigando direto," revela Davis. "Todas as bandas fazem isso. E, no final do dia a gente ria e se abraçava e isso era legal. A maneira que isso retratava na mídia é sempre totalmente diferente de como realmente é. KoRn nunca esteve na beira da destruição, só é que David continuou errando e Head foi ferrado pela metanfetamina..."

Davis diz que isso é tão trivial que você acha de seus amigos ou colegas de trabalho desaparecem em longas semanas de bebidas ou farra de drogas foi comum, ocorrência diária. Mas para o KoRn, o que parece, que isso foi muito mais.

"Nós apenas nos rebaixamos nessa 'novela de merda'," disse Davis. "Eu me arrependo de agir como um idiota com o abuso de drogas e o alcoolismo. Eu era um puta otário, vivendo minha fantasia de Jim Morrison que era o que eu pensava que uma vida de rockstar deveria ser. Eu era idiota pra caralho. Mas isso é como você pensa, você tinha que agir assim quando você é uma criança."

Agora com 36 anos, Davis foi o primeiro membro da banda a dar às costas para o lado hedonista do estilo de vida do rock 'n' roll. "Quando eu fiz 28 anos, cara, foi isso aí," ele confessa. "Eu não toquei em nada dessa merda desde então. E o que você sabe? Isso foi quando eu realmente comecei a viver minha vida."

Mas os outros membror continuaram perdendo-se em excesso.

O primeiro a admitir que ele "curtia 7 dias na semana, 365 dias num ano" foi Fieldy. De fato, o baixista estava tão fora de controle, que ele se tornou um andarilho, falando de responsabilidade. Pergunte a ele hoje e ele irá dizer que se você sempre escutou um rumor sobre ele provavelmente foi verdade - "Eu não sei se eles eram rumores pois eu estava tão mal quanto possível," ele encolhe os ombros em sinal de indiferença, auto-conscientizando.

"Com toda a certeza eu vivi uma vida de rapper, comprando um monte de jóias e carros de fantasia. Eu olho pra trás e acho que aquelas coisas foram perda de dinheiro. Eu comprei £15,000 em relógios. No que eu estava pensando? Eu acho que um monte de razões pelas quais eu fiz aquelas coisas foi porque eu estava 'alto'. Eu não estava pensando direito. Eu estava preso naquele círculo vicioso. Era como se eu fosse um rockstar então eu era intocável, saca? Mas o lance é, você não tem que fazer aquelas coisas pra ser um rockstar. Eu não faço nada disso mais e ainda estou aqui, ainda estou curtindo."

"Na banda nós o chamávamos de 'Mouth' ('Boca')," admite Davis. "A gente tinha que pará-lo forçando-o, porque ele falava sem pensar como merdas sem sentido nas entrevistas. Eu sei que ele não queria dizer nada para não ser prejudicado. Eu amo o Reggie e eu odeio quando falam mal dele porque ele é tão legal agora que está sóbrio. E esse é o lado dele que eu sempre vi, que é como se ele estivesse em particular... Mas logo que ele vai numa entrevista, ele age como um puta retardado!"

Enquanto a pressão não era exatamente colocar apostas em que um do KoRn seria descoberto num chão de banheiro, a maioria dos jornalistas de rock não deveriam ter se surpreendido se um deles tivesse sido. Mas o que aconteceu próximo da "novela de merda" do KoRn foi só um manifesto bizarro, comparado por seus padrões.

Em 10 de março de 2005, fora do azul e desconhecido para sua banda ou sua companhia de empresários, o guitarrista Brian "Head" Welch foi entrevistado no canal de jornal americano CNN em Israel depois de ser batizado no Rio Jordão. Poucos dias depois dele ter anunciado sua saída do KoRn, classificando que ele tinha "que escolher o Senhor Jesus Cristo como seu salvador, e deveria dedicar sua atividade musical para esse fim daí em diante."

"Isso foi bizarro," Davis relembra. "Sabíamos que algo estava errado com ele mas ninguém poderia ter previsto isso."

Na última turnê que o KoRn tocou com Welch, Davis observou que o guitarrista estava se tornando cada vez mais introvertido, retirando-se para seu quarto de hotel depois dos shows na primeira oportunidade. Davis atribuiu ao companheiro uma conduta fora de caráter com os problemas que Welch estava tendo com sua esposa e colocou isso acima de si para tentar e tirá-lo de sua casca. Sua classifcação de sucesso foi mínima.

"Eu tentei tudo que foi possível em meu poder para ajudá-lo mas ele estava no inferno," cochicha o vocalista. "E daí nós tinhamos que vê-lo se desintegrar. Então ele disse que não queria ficar mais na banda e a gente disse, tipo, 'Bem. Vá ficar com sua filha, fique em casa, seja um pai e vamos conseguir um guitarrista para as turnês'. Nós não conhecíamos a extensão de seus problemas com as drogas até agora, então a princípio ele parecia estar ficando melhor. Isso terminou com que o Head ficasse fudido com metanfetamina desde que eu entrei na banda até o momento em que ele saiu."

Seguindo a sua saída, Welch incitou uma guerra de palavras com seu membro e amigo pela internet e na imprensa americana, chamando o KoRn de "pernicioso" e "pecaminoso".

"Estávamos apenas vomitando merdas de volta e adiante e isso foi muito estúpido," confessa Davis, seus olhos se enchem de lágrimas. "Ele não tinha que atacar nossa banda que todos nós colocamos nossos corações e almas nela. Ele só não tinha que dizer toda essa merda sobre a gente ser 'demônio' e 'negativo'. Ele sentiu que Deus estava contando a ele para fazer isso e você sabe o que, talvez Ele estivesse. Mas não havia necessidade nessas coisas que ele disse. Fomos atacados sem razão e isso machucou pra porra meus sentimentos."

Na parte de cima do assoalho do ônibus da turnê na mesa de café aos pés da cama de Davis está uma cópia do livro de Welch, "Save Me From My Self". A capa retrata um Welch barbudo arrodeado de crucifixos, enquanto a sinopse declara, "Essa é uma incrível história verdadeira de um rockstar fora de controle, e sua miraculosa redenção através de Jesus Cristo."

Eu percebi que você estava lendo o livro, Jonathan?

"Sim," ele responde monossilabicamente.

O que você pensa a respeito?

"Não saiu tão ruim quanto eu pensava que sairia," ele encolhe os ombros. "As coisas que ele escreveu sobre nós estava bem, eu acho. Poderia ter sido um monte de coisas bem piores. Mas está do jeito que é. Pelo menos agora ele está num lugar melhor. Bom para ele, fico feliz por saber que ele conseguiu a ajuda que precisava."

Embora no fundo, no fundo ele saiba que tem que fazer algo com seus outros companheiros de banda mais cedo ou mais tarde, a saída de Welch foi o catalisador que forçou Davis à avaliar de novo seu variado nível de comprometimento e direção.

"Eu precisava de pessoas em minha banda que quisessem tocar música e quisesse estar numa banda," ele diz. "E você sabe qual é a coisa mais engraçada? No livro do Head, ele diz que seu coração não estava mais nisso, e depois David saiu, isso foi o que ele me disse também."

Depois de fazer uma performance sem brilho no "See You On The Other Side" e num semi-show completo para a gravação do seu cd e dvd, "MTV Unplugged", Davis, Fieldy e Munky decidiram colocar o Silveria numas férias forçadas em janeiro desse ano.

"Foi uma decisão mútua entre a banda," revela Davis. "Para simplificar, o modo de tocar e a técnica do David sumiram. Estávamos completamente preocupados quando ele se preparava para fazer nosso novo álbum. Estávamos nos preparando para ensaiar e David dizia tipo, 'Não, eu não consigo fazer isso', daí nós fizemos um outro arranjo e ele dizia, 'Não, eu não consigo fazer isso'. Daí eu disse a ele, 'Eu acho que você precisa tirar umas férias,' e não ouvi nada dele desde então."

Então ele ainda é um membro do KoRn?

"Sim, e estou certo que ele irá voltar, quando ele estiver pronto. No momento ele está feliz com seus negócios, mas seu coração e paixão se foram. Eu o amo e queria que ele estivesse em minha banda, mas seu coração não está nela agora. Estou dilacerado. Ele é meu irmão e ele está machucado, mas às vezes as pessoas têm que perder tudo antes deles perceberem isso."

Então o que você gostaria de dizer a David agora, tendo em mente que essa entrevista pode ser o único contato que você tenha com ele?

"Eu só quero dizer que, 'David, eu te amo. Isso é tudo que eu tenho a dizer, cara. Eu te amo e espero que você esteja bem.' É isso."

O KoRn revela seu top 3 das lições de vida.

A vida não é uma grande festa
Fieldy: "Esse estilo de vida pode ser um grande círculo vicioso. Se o eu agora tivesse dado conselho para mim 10 anos atrás, eu diria, 'pare de mentir para si mesmo e pare o que você está fazendo. Você quer mesmo se matar ou você quer tentar viver sua vida?'"

Compartilhe e compartilhe da mesma forma
Munky: "Bem no começo nós decidimos dividir tudo de cinco maneiras. A vida numa banda é bastante difícil e a última coisa que você quer se preocupar é com seu dinheiro. Você está entrando em acordo com suas putas esposas, bem, são duas agora. E eu lembro quando eu estava casado, foi muito difício manter um feliz."

Saiba quem são seus verdadeiros amigos
Jonathan: "Sair para curtir com outras pessoas famosas? Eu não dou a mínima pra isso mais. Meus amigos de verdade nesses dias são Loc e Sleepy, os dois caras que tomam conta de mim, James e Reggie, minha esposa - ela é a número um - e meus filhos. Essas são as pessoas que são muito importantes pra mim. Minha melhor amiga do mundo, entretanto, é minha irmã."


Adiantando para o dia seguinte. KoRn chega em Spandau, distrito de Berlin, às 8am. À noite eles vão tocar num outro show lotado, dessa vez com 10 mil fãs, na rua Zitadelle - um forte medieval que foi usado para prender o líder nazista que cometeu crimes de guerra durante 1946 em Nuremberg. Agora são 3 da tarde e o KoRn está descansando na sua sala de estar. Munky acabou de acordar.

"Estou muito animado com o show de hoje à noite," ele diz, pegando um cigarro. "Fazem 15 anos, mas finalmente as pessoas sabem que está bem em gostar de Depeche Mode e Metallica... e está tudo bem em gostar de KoRn também," ele completa, rindo.

Talvez o que seja mais animador sobre o show de hoje à noite para Munky e seus companheiros de banda é que eles são capazes de tocar algumas de suas músicas do "See You On The Other Side". Com Welch e, para um menos distante, Silveria ambos fora da foto, foi dado a Munky a oportunidade de dar um passo à frente e conduzir a banda musicalmente.

"Foi um monte de trabalho pra ele." Fieldy admite. "Munky estava trabalhando em inacreditáveis horas pois ele não tinha esse outro cara na banda mais para trocar idéias. Mas é a sua hora de brilhar."

"Todos nós sentimos que esse foi senão o fim da banda ou um novo começo," completa Munky. "Eu acho que é um renascimento total. Eu espero que as pessoas gostem do novo cd. Isso faz sentir como se nós tivéssemos feito um álbum de novo. O último álbum fizemos com Brian, 'Take a Look in the Mirror', que foi um monte de músicas. Comparando o último álbum senti como um álbum de músicas. Esse novo sinto mais do que um simples álbum. Eu acho que esse cd está ótimo. Tenho a mesma sensação quando lançamos o 'Follow The Leader'. Do mesmo jeito, tipo, 'Puta merda!' É difícil de dizer."

Mas o KoRn vendeu mais de 20 milhões de álbuns pelo mundo todo, então compensa se esse álbum bombar, você estará certo, não é?

"Eu vim de um ponto em minha vida que se eu olho para trás no passado eu vejo que aprendi que é muito fácil para mim viver minha vida dia após dia do que prever o futuro," confessa Munky. "Mas o que quer que o futuro nos reserve, vamos continuar trabalhando pois nós queremos, não porque algum de nós pais-em-direito e alguma de nossas irmãs-da-lei precisam dirigir por aí em suas BMWs. Sempre haverá o KoRn."

"O futuro é radiante, cara," completa Davis, com um brilho em seus olhos, olhando para cada um dos seus companheiros de banda. "Eu tive que passar pelo inferno para chegar onde estou. Mas a vida é ótima agora. Eu não mudaria uma única coisa. Eu nunca duvidei que o KoRn e eu não quisesse ir até o fim. Essa é nossa paixão.
Nós temos nossos altos e baixos, mas ainda estamos aqui,
" ele conclui, sorrindo. "A gente atingiu as expectativas de longe."

BY BAЯT

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